Cosmetovigilância e Farmacovigilância: Saiba Mais

Todos os dias, milhões de brasileiros utilizam medicamentos e cosméticos sem perceber os complexos sistemas de vigilância que garantem sua segurança. Como profissionais da área da saúde, precisamos entender a diferença entre cosmetovigilância vs farmacovigilância para garantir a segurança desses produtos.

A farmacovigilância e a cosmetovigilância são sistemas fundamentais estabelecidos pela ANVISA que, embora relacionados, possuem características próprias e objetivos específicos. Neste artigo, vamos explorar detalhadamente cada um desses sistemas, suas diferenças cruciais e como eles trabalham para proteger a saúde da população.

Vamos analisar desde os conceitos básicos até os impactos práticos desses sistemas em nossa sociedade, fornecendo uma visão completa sobre como cada um contribui para a segurança dos produtos que utilizamos diariamente.

Fundamentos da Farmacovigilância

Quando falamos em segurança de medicamentos, precisamos entender primeiramente o que é a farmacovigilância. De acordo com a Organização Mundial da Saúde (OMS), trata-se da ciência e conjunto de atividades dedicadas à detecção, avaliação, compreensão e prevenção de eventos adversos relacionados a medicamentos [1].

Definição e objetivos principais

Em nossa prática diária, observamos que a farmacovigilância tem como principais objetivos:

  • Detectar e analisar reações adversas a medicamentos
  • Prevenir a ocorrência de eventos indesejados
  • Monitorar queixas técnicas
  • Garantir a segurança dos produtos farmacêuticos

Marco regulatório no Brasil

Em 2009, demos um passo significativo com a criação do Sistema Nacional de Controle de Medicamentos (SNCM) através da Lei 11.903/2009 [2]. Este sistema revolucionou o acompanhamento dos medicamentos em toda a cadeia produtiva, desde a fabricação até o consumo final.

A modernização do marco regulatório continuou com a RDC 406/2020, que estabeleceu as Boas Práticas de Farmacovigilância, e a IN 63/2020, focada no Relatório Periódico de Avaliação Benefício-Risco [3]. Estas normativas trouxeram nossa regulamentação para padrões internacionais de excelência.

Papel da ANVISA no monitoramento

Em 2001, implementamos a Rede Brasileira de Hospitais Sentinela, uma iniciativa crucial da ANVISA para fortalecer a vigilância pós-comercialização [1]. Esta rede conta com hospitais qualificados que realizam notificações de suspeitas de reações adversas e queixas técnicas.

O monitoramento acontece através de tecnologia avançada de captura, armazenamento e transmissão eletrônica de dados [2]. Este sistema nos permite realizar ações mais efetivas de recolhimento quando necessário, seja por questões de qualidade, desvio ou roubo.

A implementação destes programas de farmacovigilância ativa não apenas protege nossos pacientes, mas também gera economia para os sistemas de saúde ao identificar precocemente reações adversas a medicamentos [1].

Conceitos Básicos da Cosmetovigilância

Nos últimos anos temos observado uma evolução significativa na vigilância de produtos cosméticos. A cosmetovigilância representa um avanço crucial em como monitoramos e garantimos a segurança dos produtos cosméticos que chegam aos consumidores brasileiros.

Definição e escopo de atuação

Quando falamos em cosmetovigilância, nos referimos ao conjunto de atividades dedicadas à vigilância pós-comercialização dos produtos cosméticos regularizados em nosso país [4]. O termo abrange três categorias principais de produtos:

  • Cosméticos
  • Produtos de higiene pessoal
  • Perfumes [5]

O sistema de cosmetovigilância visa proteger especialmente grupos vulneráveis, como crianças, gestantes e idosos [5]. Este monitoramento é fundamental para identificar e prevenir possíveis efeitos indesejáveis.

Regulamentação específica

Em 2024, o Brasil deu um passo significativo com a publicação da RDC 894/2024, que estabelece requisitos mínimos para sistemas de cosmetovigilância [6]. Esta nova regulamentação trouxe mudanças importantes, tais como:

  • Designação obrigatória de um profissional qualificado residente no Brasil
  • Implementação de canal direto com consumidores
  • Prazo de 20 dias para notificação de eventos adversos graves [6]

Sistema de Cosmetovigilância

O Sistema de Cosmetovigilância previsto na mais recente normativa opera de forma integrada, envolvendo diversos atores. As empresas devem manter um banco de dados seguro por no mínimo cinco anos [6], permitindo a avaliação contínua de riscos e benefícios e a proteção da confidencialidade dos dados dos consumidores

Em parceria com as vigilâncias sanitárias nacional, estadual e municipal, a indústria deve coordenar ações que garantem a segurança dos produtos [5]. Este trabalho conjunto tem se mostrado fundamental para a efetividade do sistema de cosmetovigilância em nosso país.

Diferenças Fundamentais Entre os Sistemas

Ao analisarmos os sistemas de vigilância em saúde, percebemos diferenças cruciais entre a farmacovigilância e a cosmetovigilância. 

Tipos de produtos monitorados

Cada sistema possui um escopo bem definido, a começar pelos produtos abrangidos. A farmacovigilância concentra-se em:

  • Medicamentos e suas reações adversas
  • Problemas de qualidade e ineficácia terapêutica
  • Erros de medicação e interações medicamentosas [7]

Por outro lado, a cosmetovigilância abrange reações adversas e queixas técnicas relacionadas a cosméticos, produtos de higiene pessoal e perfumes. 

Requisitos regulatórios específicos

As diretrizes regulatórias brasileiras atuais apontam que a farmacovigilância deve seguir a RDC 406/2020, que estabelece as Boas Práticas de Farmacovigilância [3]. Este regulamento trouxe mudanças significativas, incluindo:

  • Novo sistema de monitoramento pós-registro
  • Plano de gerenciamento de risco atualizado
  • Periodicidade específica para apresentação de relatórios

Já para a cosmetovigilância, a base normativa é a RDC 894/2024, que determinou a implementação obrigatória do sistema em todas as empresas detentoras de registro de produtos cosméticos [10]

Impacto na Saúde Pública

O trabalho diário com sistemas de vigilância em saúde aponta que a proteção ao consumidor se tornou mais robusta e eficiente, impactando diretamente a saúde pública brasileira.

Proteção ao consumidor

A notificação de eventos adversos é crucial para o monitoramento da segurança dos produtos.Um bom sistema de farmacovigilância ou cosmetovigilância prevê, entre outros: 

  • Comunicação direta sobre problemas de uso
  • Identificação rápida de defeitos de qualidade
  • Monitoramento contínuo de efeitos indesejáveis
  • Acesso facilitado às informações sobre produtos [9]

Prevenção de eventos adversos

Nenhum produto está totalmente livre de provocar eventos adversos. No entanto, os riscos de complicações graves são significativamente menores quando um sistema de monitoramento adequado rastreia e avalia os efeitos indesejados decorrentes do uso e consumo destes produtos.

Garantia da qualidade dos produtos

Nos setores de fármacos e produtos cosméticos, a garantia da qualidade ocupa posição estratégica na cadeia produtiva. Acompanha-se desde a seleção de fornecedores até a liberação final do produto para o mercado [13].

Um sistema de garantia da qualidade adequado exige investimentos expressivos à medida que conhecimentos são aprimorados, novas tecnologias são desenvolvidas e diferentes exigências técnicas são estabelecidas [13]

Impacto na Segurança: Quando identificam-se desvios enquanto o produto ainda está na fábrica, há a possibilidade de se implementar ações corretivas e preventivas mais eficazes. No entanto, quando um desvio é identificado e o produto já está no mercado, enfrentam-se situações mais complexas que podem exigir seu recolhimento ou recall [13].

Qualquer ação que não receba atenção adequada pode impactar diretamente na saúde e na vida dos consumidores [13]. Por isso, um sistema robusto de investigação e tratamento de desvios, com planos de ação claramente divulgados é fundamental [13].

Conclusão

Os sistemas de farmacovigilância e cosmetovigilância são fundamentais para a segurança da população brasileira. Cada sistema possui características próprias e complementares, formando uma rede robusta de proteção ao consumidor.

Os avanços regulatórios recentes, como a RDC 894/2024 para cosmetovigilância e a RDC 406/2020 para farmacovigilância, demonstram o compromisso com a modernização e eficiência desses sistemas. 

Entretanto, o sucesso destes sistemas reside na participação ativa de todos os envolvidos – profissionais de saúde, empresas e consumidores. A vigilância constante e as notificações adequadas permitem ações rápidas e efetivas, protegendo a saúde pública e mantendo a confiança nos produtos comercializados.

FAQs

  1. Qual é o propósito da cosmetovigilância?
    A cosmetovigilância é essencial para assegurar a qualidade dos produtos cosméticos, focando principalmente na segurança e eficácia para os consumidores. Através das notificações recebidas, é possível melhorar os produtos e facilitar a rastreabilidade dos fabricantes.
  2. O que significa farmacovigilância?
    Farmacovigilância é a ciência e as atividades envolvidas na identificação, avaliação, compreensão e prevenção de efeitos adversos ou quaisquer outros problemas relacionados ao uso de medicamentos.
  3. Por que a farmacovigilância é crucial na assistência farmacêutica?
    A farmacovigilância é vital porque busca assegurar que os benefícios dos medicamentos sejam maiores que os riscos associados, monitorando eventos adversos que possam surgir após o medicamento ser liberado para uso geral pela população.
  4. Quais são os principais desafios enfrentados pela farmacovigilância?
    Os principais desafios incluem a sensibilização dos profissionais de saúde, a implementação de métodos complementares à notificação voluntária, a farmacovigilância de medicamentos biológicos e de base genética, além da avaliação do impacto das ações realizadas.

Referências

[1] – http://antigo.anvisa.gov.br/documents/33868/2894786/Boletim+de+Farmacovigilância+nº+10/edccfdd4-0645-418a-92d5-b328df8639e9
[2] – https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/fiscalizacao-e-monitoramento/rastreabilidade
[3] – https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/noticias-anvisa/2020/novo-marco-regulatorio-de-farmacovigilancia-confira
[4] – https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/fiscalizacao-e-monitoramento/cosmetovigilancia/arquivos/perguntas-e-respostas-cosmetovigilancia-v1
[5] – https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/fiscalizacao-e-monitoramento/cosmetovigilancia
[6] – https://www.pinheironeto.com.br/conhecimento-juridico/alerta/anvisa-publica-norma-sobre-cosmetovigilancia
[7] – https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/fiscalizacao-e-monitoramento/farmacovigilancia
[8] – http://antigo.anvisa.gov.br/documents/10181/5141647/Relatorio_AIR_Cosmetovigilancia.pdf/53367717-443c-4ff4-8ebd-13466e8822a0?version=1.0
[9] – https://revistas.ufpr.br/academica/article/download/11663/8222
[10] – https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/regulamentacao/air/analises-de-impacto-regulatorio/2023/arquivos-relatorios-de-air-2023-2/relatorio_air_cosmetovigilancia_versao_final_26julho23-1.pdf
[11] – https://revistas.usp.br/rdisan/article/view/192083
[12] – https://www.gov.br/anvisa/pt-br/assuntos/fiscalizacao-e-monitoramento/farmacovigilancia/copy_of_vacinas
[13] – https://ictq.com.br/industria-farmaceutica/251-como-funciona-a-garantia-da-qualidade-na-industria-farmaceutica

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